segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

As Horas - em tempos de inclusão digital (parte 2)

Na Mitologia Romana, AS HORAS são as divindades das Estações. São três: Eunômia, Dirce e Irene - ou seja: respectivamente Disciplina, Equanimidade e Paz. Os gregos as chamavam "Talo", "Auxo" e "Carpo" (nomes que evocam a idéia de "nascer", "crescer" e "frutificar"). São elas geralmente representadas como três donzelas de porte gracioso, segurando muitas vezes uma flor ou uma planta (símbolo das colheitas, da florescência e dos ciclos sazonais). Eram filhas de Zeus (o Todo-Poderoso) com Têmis (a Justiça) e irmãs das Moiras (os Destinos). No Olimpo eram elas as encarregadas de desatrelar os cavalos do carro de Apolo (o Sol). Foram as responsáveis pela educação de Hera (filha de Cronos, o Tempo), a maior de todas as deusas do Olimpo. As Horas possuíam um duplo aspecto: como Divindades da Natureza, presidiam ao ciclo da vegetação; como Divindades da Ordem (filhas de Têmis, a Justiça), asseguravam a estabilidade social. Apenas tardiamente - por volta do séc. XIV, com a adoção do chamado Tempo Italiano -, é que foram utilizadas para personificar a unidade fundamental de tempo, provavelmente por conta de uma tradução abusiva de seu nome em latim: "Horae". Mas isso não passa de pura convenção (adotada oficialmente pelo Papa Gregório XIII no séc. XVI), como toda e qualquer ficção criada pelo homem; uma tentativa desesperada de estabelecer um "nexo temporal" no Universo Caótico em que vivemos. Convenção aliás, que carece bastante de critérios científicos e que, estranhamente, acabou por ESCRAVIZAR a mesma Humanidade a qual deveria servir e organizar...
A Revolução Francesa chegou a ABOLIR esta convenção gregoriana de tempo, como forma de simbolizar a ruptura com a Velha Ordem, e instituiu a partir de 1792, um novo calendário de base solar, cujo o ano começava no equinócio de outono (dia 22 de setembro, no hemisfério norte). Conseqüentemente, o dia e as horas também sofreram alterações fundamentais em sua estrutura e concepção. O CALENDÁRIO REVOLUCIONÁRIO estabelecia o TEMPO da seguinte maneira:

um ano = 12 meses;

um mês = 03 semanas;

uma semana (chamada 'decâmero') = 10 dias;

um dia = 10 horas;

uma hora = 100 minutos;

um minuto = 100 segundos.

Os meses também foram reinventados:

1) Vindimiário (de 22 de setembro a 21 de outubro);

2) Brumário (de 22 de outubro a 20 de novembro);

3) Frimário (de 21 de novembro a 20 de dezembro);

4) Nivoso (de 21 de dezembro a 19 de janeiro);

5) Pluvioso (de 20 de janeiro a 18 de fevereiro);

6) Ventoso (de 19 de fevereiro a 20 de março);

7) Germinal (de 21 de março a 19 de abril);

8) Floreal (de 20 de abril a 19 de maio);

9) Pradial (de 20 de maio a 18 de junho);

10) Messidor (de 19 de junho a 18 de julho);

11) Termidor (de 19 de julho a 17 de agosto);

12) Frutidor (de 18 de agosto a 20 de setembro).

Este calendário revolucionário vigorou na Europa durante TREZE ANOS, de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando Napoleão I, visando reestruturar suas relações com o clero, ordenou o restabelecimento do calendário gregoriano. Prova irrefutável de que nada é ABSOLUTO! Principalmente o RELÓGIO - que hoje tanto nos controla e escraviza...

Mas e em tempos de 'horas-bytes'? Como lidar com uma convenção que não foi "convencionada", mas sim imposta de forma silenciosa e inconsciente???



*Referências Bibliográficas: (Pierre Grimal, "Dicionário da Mitologia Grega e Romana"); (Jacques Castelnau, "Os Tentáculos da Repressão").

sábado, 22 de dezembro de 2007

As Horas - em tempos de inclusão digital (parte 1)

Estou de volta. Após alguns dias de ausência, devido a um problema técnico no meu computador, descubro que ficar longe disso aqui não é assim tão ruim: boa oportunidade para fazer coisas dentro de uma "escala natural" de tempo.
Digo isso, por acreditar realmente que ao ligar o Windows e começar a navegar por um oceano de janelas abertas - cada uma linkada a uma pessoa, a um site, a um assunto diferente -, nossa mente começa a contar o tique-taque das horas num ritmo absolutamente diverso daquele ao qual estamos acostumados quando voltados à realidade fora do microcosmo virtual. E é exatamente essa ambigüidade das horas (que experimentamos quando conectados ao Espaço Virtual) que me leva a pensar que o RELÓGIO - grande tirano do Mundo Exterior e inimigo-mor da subjetividade, nesta época em que vivemos - não passa de uma grande FRAUDE que está com os dias contados!
Claro que não há nada de novo ou de genial numa constatação dessas. Stephen Hawking já demonstrou a falácia das horas em seu "O Universo Numa Casca de Noz" e eu não preciso ficar aqui repisando teorias quânticas apenas para convecê-los da seriedade do que estou falando. O fato é que o relógio já era! E a internet é o carrasco que irá sepultá-lo definitivamente... só não dá para dizer se isso é melhor ou pior!
A cerca de quinze anos atrás, era simplesmente inconcebível a idéia de que TODOS os computadores da Terra estariam interligados. Hoje, ainda estamos naquela fase inicial de deslumbramento, tão característico das "Corridas do Ouro", que de tempos em tempos a humanidade experimenta: seja em função da descoberta de um continente novo ou da invenção de uma nova máquina, capaz de poupar homens e de aumentar a lucratividade. O mercado está cheio de hardwares cada vez mais compactos e de softwares cada vez mais miraculosos. Pensa-se muito nas conseqüências espaciais desta "Revolução Digital" - o que fazer com o lixo tecnológico; como gerir relações comerciais originadas na internet, etc. - mas não se ouve falar quase nada (pelo menos na grande mídia) sobre as conseqüências PSÍQUICAS de toda essa conectividade para a Humanidade a longo prazo...
Ao interligarmos os computadores, na verdade interligamos as MENTES! Mas também inauguramos a Era dos "relacionamentos desconectáveis"... Livramo-nos do chato, do diferente, do desagradável com um simples clicar de botão direito com um mouse. Reinstituímos a censura sem o menor pudor de bloquear o acesso a conteúdos "indesejáveis". Geramos uma nova CLASSE DE EXCLUÍDOS: os off-liners.
Conseqüentemente, criamos uma nova unidade de tempo, a qual apenas uma pequena elite (pequena para a realidade periférica da América Latina) tem acesso: a hora-byte.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Comendo caranguejos vivos...

Sábado passado - por ocasião do tempo bom e do saco profundamente cheio após uma semana inteira de provas e avaliações - peguei o carro, meia-dúzia de cd's para curtir um bom e velho rock'n'roll, passei na casa de um camarada com quem não trocava idéia fazia tempo e me mandei para a Estrada da Graciosa, na intenção de respirar um pouco de ar puro, curtir a natureza e é claro, um belo barreado e uma cachacinha de banana lá em Morretes (cidadezinha ao pé da Serra, a cerca de 70km de Curitiba).
Da viagem em si não tenho muito para contar, a não ser aquela mesma babaquice de sempre, muito bem conhecida pelos curitibanos: famílias tirando fotos; otários e otárias em trajes de banho tentando encarar aquela água insuportavelmente gelada do Rio Nhundiaquara; barraquinhas vendendo chips de aipim e balinhas de banana. Tudo exatamente como se poderia esperar de um final-de-semana nas cidades serranas...
O que eu pretendo lhes contar, é o acontecimento ao mesmo tempo insignificante e bizarro que aconteceu logo após o almoço, quando eu e meu amigo esperávamos o barreado dar aquela "abaixada" dentro da barriga para podermos encarar a subida de volta para Curitiba em meio às curvas sinuosas da Estrada da Graciosa...
Então, logo após o almoço fomos nos sentar num banco de praça, bem à sombra do coreto e de frente para o rio, para fazer a digestão e jogar um pouco de conversa fora, quando um velho cabeludo e de barbas longas chegou pedalando uma velha bicicleta com barra circular e se aproximou de nós e de um grupo de garotos que estavam fumando cigarros, debruçados na murada do rio. Ele chegou, com aquele sorriso de felicidade típico dos idiotas e dos débeis-mentais, balbuciando sozinho palavras desconexas. Estacionou sua velha bicicleta, esticou os músculos das pernas e dos braços, estalou os tendões das costas, deu um profundo suspiro e anunciou em voz alta: - "Está na hora do meu lanchinho!".
Dito isso, enfiou a mão num dos bolsos da larguíssima bermuda e retirou de lá um CARANGUEJO VIVO, mexendo muito as pernas e dando pinçadas no ar com suas garras afiadas. Eu, meu amigo e o grupo de garotos, apenas ficamos observando, atônitos, enquanto o velho arrancava uma perna do bicho e a chupava como se fosse a mais deliciosa das iguarias!
- "Mas que falta de educação a minha, não lhes oferecer!" - disse para nós o velho, quando percebeu-se observado. - "Querem uma perninha também? Podem pegar!" - concluiu estendendo-nos a repulsiva guloseima, enquanto arrancava uma das garras como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Os garotos se afastaram, olhando para o velho como se ele fosse uma aparição surgida das Profundezas. Eu e meu amigo ficamos ali, assistindo o inusitado espetáculo gastronômico, enquanto o velho arrancava um a um cada membro do caranguejo e os chupava em seguida, até restar em sua mão nada além de uma carcaça completamente desmembrada - mas com um par de olhos ainda se mexendo.
Foi quando ele olhou para nós e com um ar de profunda sabedoria declarou: - "Não, não... As entranhas não prestam para comer! Tem veneno dentro dos pulmões desses bichos!" - e dispensou o caranguejo, ainda vivo, atirando-o com desprezo dentro do rio. Montou então em sua bicicleta e foi embora, assobiando, feliz da vida.
Uma mulher, que estava trabalhando numa das barraquinhas de chips e balinhas de banana, percebendo a nossa perplexidade, então nos falou: - "Esse senhor era professor aqui na cidade. No começo dos anos 90 ele perdeu a mulher e as duas filhas, num acidente aqui na BR-277 e desde então ele ficou assim!".
Levantamo-nos e fomos embora. Não comentamos o assunto durante a viagem de volta, mas as imagens da cena bizarra não me abandonaram durante a semana.
Estou pensando em voltar lá hoje, para ver se encontro a inusitada figura para trocar uma idéia. Uma pessoa assim deve ter histórias incríveis para contar... E no mínimo, renderia um BELO CONTO!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Carta a um Professor ( ou "A imensurável cretinice dos Exames Finais")

Um dia desses, por ocasião da proximidade dos "exames finais" na respeitável instituição onde absorvo uma (tão inútil, quanto pomposa) "formação jurídica acadêmica", eu questionava meu professor de Direito Tributário - aliás, um grande amigo meu, por mais que eu discorde em gênero, número e grau tanto do conteúdo, quanto da metodologia por ele aplicada em sala de aula - sobre os tópicos que seriam abordados no dito exame. A resposta dele não poderia ser mais hipócrita e nem refletir com maior precisão o GRANDE VAZIO que impera numa instituição cada vez mais comprometida com o "Grande Comércio Educacional" e cada vez menos imbuída na tarefa de formar Pensadores: "No exame final será cobrado o conteúdo do semestre inteiro".
Resposta vazia, hipócrita e mentirosa, uma vez que, a pelo menos oito anos lecionando nesta instituição, este mesmo professor vem aplicando provas e avaliações sobre os MESMOS TÓPICOS, abordando o MESMO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO e utilizando-se dos mesmos "artifícios" e "pegadinhas" para selecionar os mais "aptos" a evoluírem dentro do curso (de acordo com uma lógica comercial e mercadológica), moldando assim o perfil do estudante de Direito, que refletirá em sua futura atuação num mercado de trabalho cada vez mais funcional, o "espírito" da Faculdade de Direito de Curitiba (que muitos desinformados ainda julgam ser a grande representante dos Valores e das Tradições Jurídicas aqui no Sul do Brasil).
Ora, não precisa ser adepto do "pensamento crítico" para perceber que a antiga e "tradicionalíssima" Faculdade de Direito de Curitiba tornou-se APENAS MAIS UMA num mercado de ensino saturado e voltado exclusivamente para a Educação de Massas - abandonando toda e qualquer forma de pensamento individual e PUNINDO o "diferente" através dos mecanismos covardes de SELETIVIDADE, postos em funcionamento através de Exames com critérios avaliacionais duvidosos e da liberdade regulada pela prática de rígidos controles de horário e de porcentagem freqüencial.
Ora... Será REALMENTE desse tipo de acadêmico (vigiado, controlado, monitorado, punido) que a Sociedade Brasileira está necessitada? Já não bastam os "doze mil e muitos" novos bacharéis de Direito que são VOMITADOS no Mercado de Trabalho todos os semestres por incontáveis instituições com critérios análogos de ensino?
Bem, não satisfeito em reproduzir e perpetuar essa INFELIZ cadeia de (mau) funcionamento pedagógico dentro da instituição a qual pertence, este mesmo professor ainda tenta (talvez por sentir suas "verdades absolutas" ameaçadas; talvez por "inveja" de não ter vivenciado durante os seus tempos de graduando uma experiência semelhante) diminuir e ridicularizar iniciativas LEGÍTIMAS e SINCERAS por parte de uns poucos acadêmicos, de levarem algum CONHECIMENTO HUMANO para o meio do ensino de tantas PRÁTICAS BUROCRÁTICAS ineficazes e idealizadas (que em NADA correspondem à realidade que o recém-formado irá encontrar dentro do nosso torpe Sistema Judiciário - regulado pelo poder aquisitivo e pelas distinções de classe), como o fez ao se referir ao Núcleo Crítico (grupo de estudos transdisciplinar, formado por acadêmicos cansados do VAZIO e da AUSÊNCIA de conhecimento humano dentro do curso de Direito) como "um grupo de estudos voltado à Perfumaria".
Pois bem, Professor, como a relação VERTICAL que mantemos por imposição da instituição me PROÍBE com a ameaça de inúmeras sanções administrativas de lhe responder em sala-de-aula à altura da resposta que "o senhor" merecia ouvir, venho por meio desta Sala de Autópsia, dizer-lhe tudo o que eu gostaria e que ficou "entalado" na garganta:

1) em primeiro lugar, lamentar a visão mesquinha e limitada (leia-se "kelseniana"!) que o senhor traz consigo acerca do Direito por acreditar realmente que as relações humanas se limitam ao âmbito da norma e aos limites legislativos e tipificadores do Ordenamento Positivado;

2) em segundo lugar, lhe dar os "parabéns" por considerar a Antropologia, a Sociologia e a Psicanálise como mera "Perfumaria", uma vez que isso só pode significar que estes verdadeiros campos do saber acerca do ser humano e da sociedade em que vivemos CHEIRAM BEM, diferentemente de "certas disciplinas" jurídicas - como é o caso do Direito Tributário, por exemplo, que CHEIRA MUITO MAL por possuir duas finalidades (uma latente e outra declarada), quais sejam a de tentar justificar o ESPOLIAMENTO do patrimônio particular por parte do Estado, ou então, a de legitimar o CALOTE por parte do particular em cima da Receita Pública.

Não é de surpreender que uma de suas frases favoritas em sala-de-aula seja: "Vocês não estão em época de 'selecionar' conhecimento, mas sim de absorver!".
Bem, Professor: não sei dizer se a burguesia para a qual o senhor está habituado a lecionar, realmente se encontra "despreparada" para "selecionar" conhecimentos (e por isso engole de bom grado toda a sorte de excrementos que lhes são enfiados goela abaixo!); mas esse com certeza não é um critério que se aplica a todos que estão em busca de algum conhecimento na área jurídica, principalmente porque, como todos sabemos, NÃO EXISTEM verdades absolutas no campo das infinitas possibilidades do "Universo das Relações Humanas".
Eu sempre estive APTO SIM, a "selecionar" o tipo e a qualidade das informações que pretendo absorver - desde pequeno me recusando a aceitar qualquer forma de censura referente ao material literário com o qual pretendo me relacionar, até mesmo da parte de meu Pai e minha Mãe - de maneira que me considero "um pouco velho demais" para permitir que agora, aos 31 anos de idade, venha uma instituição para a qual eu não pago pouco ($$$), me dizer o que eu DEVO ou NÃO DEVO levar em consideração...
Mas talvez essas críticas sejam oblíquas e ineficazes, uma vez que o senhor é fruto e produto desse mesmo desqualificado Ensino de Massas, portanto, logo INCAPAZ de compreender as minhas críticas sem se colocar DE FORA desse mesmo Sistema de Ensino, ao qual hoje o senhor perpetua e faz parte.
Talvez um dia, tomando um chopp gelado numa mesa de bar - num momento distante da ótica "verticalizante" que te coloca como professor ACIMA DE MIM, insignificante aluno - possa lhe fazer compreender ao menos UM POUCO do conteúdo da crítica que lhe faço através destas mal-digitadas linhas...
Um grande abraço e até segunda-feira, durante a avaliação punitiva, covarde e mesquinha, chamada Exame Final!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Saudade da época da "Histeria Nuclear"...

A maioria dos meus colegas de faculdade não se lembra, pois eram muito pequenos ou sequer nascidos naquele tempo: o maior barato dos anos 80 não foi a New Wave nem o primeiro Rock in Rio; não foi a incrível seleção de 1982 - que com Telê Santana à frente, conseguiu a inigualável façanha de se tornar o único time de futebol da história, a ser recepcionado como campeão, mesmo voltando para casa derrotado - e nem mesmo a volta do regime democrático às Terras Brasilis.
O maior barato dos anos 80 foi o medo constante e a histeria coletiva que imperava (principalmente na mídia, claro!) acerca de um quase certo e extremamente próximo Holocausto Nuclear. A dolorosíssima "morte pelas chamas" nos aguardava logo ali, na próxima esquina. Impossível saber se veríamos o sol nascer na manhã subseqüente. Sobreviver - caso você possuisse um abrigo anti-nuclear ou um guarda-chuva de chumbo para se proteger da chuva de partículas radiativas -, era pior ainda, pois os sintomas de uma infecção nuclear (que você iria contrair inevitavelmente, após poucos dias respirando a poeira atômica que a bomba espalharia na atmosfera) fa-lo-ia desejar ter sido imediatamente varrido das dores da existência... Sem falar nas terríveis alterações genéticas que poderiam ser transmitidas cromossômicamente, condenando de antemão às gerações futuras! Sobreviver ao tal Holocausto Nuclear, significava na melhor das hipóteses, morrer lenta e dolorosamente de câncer; e na pior, gerar bebês que brilhavam no escuro. O que poderia ser "mais divertido" do que isso?
Penso que o auge da "Histeria Nuclear" ocorreu em 1986, por ocasião do vazamento na Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (na época, pertencente à URSS). O governo soviético tentara esconder da comunidade internacional o ocorrido, até que os índices de radiação se tornaram tão altos, que foram detectados em outros países. O acidente foi responsável pela evacuação de mais de duzentas mil pessoas e pelo isolamento de uma área de 18km ao redor da Usina - área esta, interditada para o plantio e habitação pelo menos pelos próximos cinqüenta anos.
O acontecimento despertou um verdadeiro pânico aqui no Brasil, por causa da Usina de Angra. Comentavam na época, que bastaria um vazamento de proporções muito inferiores ao ocorrido em Chernobyl, para causar uma tragédia de dimensões infinitamente MAIORES. Os argumentos utilizados por esses "profetas do apocalipse", defensores desta tese, eram a proximidade com a cidade do Rio de Janeiro e o fato da Usina ser localizada à beira-mar (o que inevitavelmente condenaria toda a população e a fauna marinha das regiões Sudeste e Sul, por conta das correntes-marítimas que convergiam justamente naquele ponto geográfico). Havia ainda a questão da carne, leite e ovos – contaminados pela radiação, por causa do vazamento na Europa – que muitos juravam, viriam parar na mesa de nós, brasileiros ("ou vocês acham que aqueles comunistas irão arcar sozinhos com todo aquele prejuízo?", proclamavam os mais exaltados). Então, durante mêses, evitou-se a carne e os ovos, que chegaram a desaparecer das prateleiras dos mercados - provavelmente por culpa do Plano Cruzado, mas muitos atribuíram ao acidente de Chernobyl. Essa foi a tal da "Histeria Nuclear"...
Hoje, não temos NADA que se iguale a ela. A tal "Ameaça Terrorista" - significante de pânico da vez, tão minuciosamente trabalhado pelos deformadores da realidade - não chega sequer na unha do dedinho do pé da "Histeria Nuclear". Quem não a viveu, perdeu tempos muito interessantes!
Oh, que saudade dos anos 80...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Inaugurando um novo espaço...

Pois bem, pessoal...
Após um longo (longuíssimo!) período de trevas, inauguro essa Sala de Autópsia justamente na intenção de torná-la um espaço para DISSECAR (expor, retalhar) diretamente com meus leitores fiéis, as aventuras e desventuras de um escritor amador fodido na vida, que precisa enfrentar diariamente as agruras e hipocrisias de uma Faculdade de Direito tida como "séria" e freqüentada por gente "jovem e promissora" - na verdade, QUASE TODOS um bando de filhotes da pseudo-burguesia curitibana, que se fossem "burguêses de verdade" estariam no Planalto Central ( muitos realmente chegarão lá, nem que seja às custas de úlceras e enfizemas, independentemente da quantidade de mãos-sujas que tenham que apertar!) e não enfurnados aqui, nesta província agrícola e coronelista, recém-emancipada, chamada Paraná! Afinal, não precisam fazer nenhum grande esforço na vida (nem mesmo um esforço para participar da vida política da faculdade - quem presenciou as eleições de "chapa única" para o Diretório Acadêmico Clotário Portugal, no âmago da Faculdade de Direito de Curitiba neste ano de 2007, sabe do que estou falando!) a não ser aguardar a leitura do Inventário... tsc, tsc!
Eu, como não fui agraciado pelo karma com a doce profissão de "herdeiro" - e muito menos tenho a intenção de passar uma existência lambendo traseiros e correndo atrás de prazos, petições e procedimentos -, preciso de um veículo RÁPIDO e DIRETO para estar em contato com aqueles que gostam de ouvir o que eu tenho a dizer (e que apenas pode ser dito através de um teclado de máquina-de-escrever). Ou, como no caso da Era de mal-estar na "Pós-Modernidade" em que estamos vivendo, através do teclado de um computador - que nada mais é do que um teclado de máquina, cuja tecnologia removeu sua característica mais apaixonante: o inconfundível ruído tec-tec-tec da datilografia, que conferia alguma humanidade ao ato de ESCREVER (digital e covardemente substituído pelo ato de "copiar e colar").
Por isso, não esperem encontrar aqui nem meus contos, nem os primeiros capítulos dos meus inacabados romances (inacabados por culpa da supracitada "faculdade séria", onde eu e mais uma meia-dúzia de "Zés Ninguém" desprovidos de sobrenome, disputamos em pé de desigualdade uma colocação no mercado de trabalho ao lado dos supracitados "herdeiros"), conforme era de praxe no meu antigo blog Histórias Noturnas - que continuará a existir, estagnado, no mesmo antigo endereço, uma vez que não consigo acessá-lo nem mesmo para deletar o seu conteúdo! Mais uma "maravilha" da tecnologia digital... (prometo tentar conduzir este espaço até os yankees do Google o "sabotarem" também!).
Além de uma modificação na proposta - uma vez que esta Sala de Autópsia é um espaço para CRÔNICAS e não para ficção - introduzo ainda uma mudança na estética: abandono o fundo preto do antigo blog (que apesar de conferir um visual dark característico aos textos, tornava sua leitura um pé-no-saco!) para usar essa tonalidade bege, cor de "burro-quando-foge", que tanto me lembra uma cozinha de classe-média... Ou talvez uma sala-de-cirurgias... Uma "sala-de-autópsias"!
Aqui irei "dissecar" o cotidiano: garotas, colegas, professores, livros, discos, notícias, trabalhos, fatos acadêmicos, fatos das ruas, sonhos, pesadelos, decepções e desejos.
Tudo com meu "bisturi afiado" (leia-se "meu teclado de escrever") e sem medo algum de "fazer sujeira" ou "me contaminar" com os LITROS de "sangue infectado" que irei derramar aqui.
Espero que vocês gostem desta Sala de Autópsia e a transformem num agradável lounge, com suas críticas, comentários e lâminas de secção intra-craniana...
SEJAM BEM-VINDOS!!!!