sábado, 22 de dezembro de 2007

As Horas - em tempos de inclusão digital (parte 1)

Estou de volta. Após alguns dias de ausência, devido a um problema técnico no meu computador, descubro que ficar longe disso aqui não é assim tão ruim: boa oportunidade para fazer coisas dentro de uma "escala natural" de tempo.
Digo isso, por acreditar realmente que ao ligar o Windows e começar a navegar por um oceano de janelas abertas - cada uma linkada a uma pessoa, a um site, a um assunto diferente -, nossa mente começa a contar o tique-taque das horas num ritmo absolutamente diverso daquele ao qual estamos acostumados quando voltados à realidade fora do microcosmo virtual. E é exatamente essa ambigüidade das horas (que experimentamos quando conectados ao Espaço Virtual) que me leva a pensar que o RELÓGIO - grande tirano do Mundo Exterior e inimigo-mor da subjetividade, nesta época em que vivemos - não passa de uma grande FRAUDE que está com os dias contados!
Claro que não há nada de novo ou de genial numa constatação dessas. Stephen Hawking já demonstrou a falácia das horas em seu "O Universo Numa Casca de Noz" e eu não preciso ficar aqui repisando teorias quânticas apenas para convecê-los da seriedade do que estou falando. O fato é que o relógio já era! E a internet é o carrasco que irá sepultá-lo definitivamente... só não dá para dizer se isso é melhor ou pior!
A cerca de quinze anos atrás, era simplesmente inconcebível a idéia de que TODOS os computadores da Terra estariam interligados. Hoje, ainda estamos naquela fase inicial de deslumbramento, tão característico das "Corridas do Ouro", que de tempos em tempos a humanidade experimenta: seja em função da descoberta de um continente novo ou da invenção de uma nova máquina, capaz de poupar homens e de aumentar a lucratividade. O mercado está cheio de hardwares cada vez mais compactos e de softwares cada vez mais miraculosos. Pensa-se muito nas conseqüências espaciais desta "Revolução Digital" - o que fazer com o lixo tecnológico; como gerir relações comerciais originadas na internet, etc. - mas não se ouve falar quase nada (pelo menos na grande mídia) sobre as conseqüências PSÍQUICAS de toda essa conectividade para a Humanidade a longo prazo...
Ao interligarmos os computadores, na verdade interligamos as MENTES! Mas também inauguramos a Era dos "relacionamentos desconectáveis"... Livramo-nos do chato, do diferente, do desagradável com um simples clicar de botão direito com um mouse. Reinstituímos a censura sem o menor pudor de bloquear o acesso a conteúdos "indesejáveis". Geramos uma nova CLASSE DE EXCLUÍDOS: os off-liners.
Conseqüentemente, criamos uma nova unidade de tempo, a qual apenas uma pequena elite (pequena para a realidade periférica da América Latina) tem acesso: a hora-byte.

Um comentário:

Silvinha Mara disse...

Adorei ! Uma visão muito interessante. Mal posso esperar pela parte 2...

Hora-bite... muuuito boa...