segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

As Horas - em tempos de inclusão digital (parte 2)

Na Mitologia Romana, AS HORAS são as divindades das Estações. São três: Eunômia, Dirce e Irene - ou seja: respectivamente Disciplina, Equanimidade e Paz. Os gregos as chamavam "Talo", "Auxo" e "Carpo" (nomes que evocam a idéia de "nascer", "crescer" e "frutificar"). São elas geralmente representadas como três donzelas de porte gracioso, segurando muitas vezes uma flor ou uma planta (símbolo das colheitas, da florescência e dos ciclos sazonais). Eram filhas de Zeus (o Todo-Poderoso) com Têmis (a Justiça) e irmãs das Moiras (os Destinos). No Olimpo eram elas as encarregadas de desatrelar os cavalos do carro de Apolo (o Sol). Foram as responsáveis pela educação de Hera (filha de Cronos, o Tempo), a maior de todas as deusas do Olimpo. As Horas possuíam um duplo aspecto: como Divindades da Natureza, presidiam ao ciclo da vegetação; como Divindades da Ordem (filhas de Têmis, a Justiça), asseguravam a estabilidade social. Apenas tardiamente - por volta do séc. XIV, com a adoção do chamado Tempo Italiano -, é que foram utilizadas para personificar a unidade fundamental de tempo, provavelmente por conta de uma tradução abusiva de seu nome em latim: "Horae". Mas isso não passa de pura convenção (adotada oficialmente pelo Papa Gregório XIII no séc. XVI), como toda e qualquer ficção criada pelo homem; uma tentativa desesperada de estabelecer um "nexo temporal" no Universo Caótico em que vivemos. Convenção aliás, que carece bastante de critérios científicos e que, estranhamente, acabou por ESCRAVIZAR a mesma Humanidade a qual deveria servir e organizar...
A Revolução Francesa chegou a ABOLIR esta convenção gregoriana de tempo, como forma de simbolizar a ruptura com a Velha Ordem, e instituiu a partir de 1792, um novo calendário de base solar, cujo o ano começava no equinócio de outono (dia 22 de setembro, no hemisfério norte). Conseqüentemente, o dia e as horas também sofreram alterações fundamentais em sua estrutura e concepção. O CALENDÁRIO REVOLUCIONÁRIO estabelecia o TEMPO da seguinte maneira:

um ano = 12 meses;

um mês = 03 semanas;

uma semana (chamada 'decâmero') = 10 dias;

um dia = 10 horas;

uma hora = 100 minutos;

um minuto = 100 segundos.

Os meses também foram reinventados:

1) Vindimiário (de 22 de setembro a 21 de outubro);

2) Brumário (de 22 de outubro a 20 de novembro);

3) Frimário (de 21 de novembro a 20 de dezembro);

4) Nivoso (de 21 de dezembro a 19 de janeiro);

5) Pluvioso (de 20 de janeiro a 18 de fevereiro);

6) Ventoso (de 19 de fevereiro a 20 de março);

7) Germinal (de 21 de março a 19 de abril);

8) Floreal (de 20 de abril a 19 de maio);

9) Pradial (de 20 de maio a 18 de junho);

10) Messidor (de 19 de junho a 18 de julho);

11) Termidor (de 19 de julho a 17 de agosto);

12) Frutidor (de 18 de agosto a 20 de setembro).

Este calendário revolucionário vigorou na Europa durante TREZE ANOS, de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando Napoleão I, visando reestruturar suas relações com o clero, ordenou o restabelecimento do calendário gregoriano. Prova irrefutável de que nada é ABSOLUTO! Principalmente o RELÓGIO - que hoje tanto nos controla e escraviza...

Mas e em tempos de 'horas-bytes'? Como lidar com uma convenção que não foi "convencionada", mas sim imposta de forma silenciosa e inconsciente???



*Referências Bibliográficas: (Pierre Grimal, "Dicionário da Mitologia Grega e Romana"); (Jacques Castelnau, "Os Tentáculos da Repressão").

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