sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Carta a um Professor ( ou "A imensurável cretinice dos Exames Finais")

Um dia desses, por ocasião da proximidade dos "exames finais" na respeitável instituição onde absorvo uma (tão inútil, quanto pomposa) "formação jurídica acadêmica", eu questionava meu professor de Direito Tributário - aliás, um grande amigo meu, por mais que eu discorde em gênero, número e grau tanto do conteúdo, quanto da metodologia por ele aplicada em sala de aula - sobre os tópicos que seriam abordados no dito exame. A resposta dele não poderia ser mais hipócrita e nem refletir com maior precisão o GRANDE VAZIO que impera numa instituição cada vez mais comprometida com o "Grande Comércio Educacional" e cada vez menos imbuída na tarefa de formar Pensadores: "No exame final será cobrado o conteúdo do semestre inteiro".
Resposta vazia, hipócrita e mentirosa, uma vez que, a pelo menos oito anos lecionando nesta instituição, este mesmo professor vem aplicando provas e avaliações sobre os MESMOS TÓPICOS, abordando o MESMO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO e utilizando-se dos mesmos "artifícios" e "pegadinhas" para selecionar os mais "aptos" a evoluírem dentro do curso (de acordo com uma lógica comercial e mercadológica), moldando assim o perfil do estudante de Direito, que refletirá em sua futura atuação num mercado de trabalho cada vez mais funcional, o "espírito" da Faculdade de Direito de Curitiba (que muitos desinformados ainda julgam ser a grande representante dos Valores e das Tradições Jurídicas aqui no Sul do Brasil).
Ora, não precisa ser adepto do "pensamento crítico" para perceber que a antiga e "tradicionalíssima" Faculdade de Direito de Curitiba tornou-se APENAS MAIS UMA num mercado de ensino saturado e voltado exclusivamente para a Educação de Massas - abandonando toda e qualquer forma de pensamento individual e PUNINDO o "diferente" através dos mecanismos covardes de SELETIVIDADE, postos em funcionamento através de Exames com critérios avaliacionais duvidosos e da liberdade regulada pela prática de rígidos controles de horário e de porcentagem freqüencial.
Ora... Será REALMENTE desse tipo de acadêmico (vigiado, controlado, monitorado, punido) que a Sociedade Brasileira está necessitada? Já não bastam os "doze mil e muitos" novos bacharéis de Direito que são VOMITADOS no Mercado de Trabalho todos os semestres por incontáveis instituições com critérios análogos de ensino?
Bem, não satisfeito em reproduzir e perpetuar essa INFELIZ cadeia de (mau) funcionamento pedagógico dentro da instituição a qual pertence, este mesmo professor ainda tenta (talvez por sentir suas "verdades absolutas" ameaçadas; talvez por "inveja" de não ter vivenciado durante os seus tempos de graduando uma experiência semelhante) diminuir e ridicularizar iniciativas LEGÍTIMAS e SINCERAS por parte de uns poucos acadêmicos, de levarem algum CONHECIMENTO HUMANO para o meio do ensino de tantas PRÁTICAS BUROCRÁTICAS ineficazes e idealizadas (que em NADA correspondem à realidade que o recém-formado irá encontrar dentro do nosso torpe Sistema Judiciário - regulado pelo poder aquisitivo e pelas distinções de classe), como o fez ao se referir ao Núcleo Crítico (grupo de estudos transdisciplinar, formado por acadêmicos cansados do VAZIO e da AUSÊNCIA de conhecimento humano dentro do curso de Direito) como "um grupo de estudos voltado à Perfumaria".
Pois bem, Professor, como a relação VERTICAL que mantemos por imposição da instituição me PROÍBE com a ameaça de inúmeras sanções administrativas de lhe responder em sala-de-aula à altura da resposta que "o senhor" merecia ouvir, venho por meio desta Sala de Autópsia, dizer-lhe tudo o que eu gostaria e que ficou "entalado" na garganta:

1) em primeiro lugar, lamentar a visão mesquinha e limitada (leia-se "kelseniana"!) que o senhor traz consigo acerca do Direito por acreditar realmente que as relações humanas se limitam ao âmbito da norma e aos limites legislativos e tipificadores do Ordenamento Positivado;

2) em segundo lugar, lhe dar os "parabéns" por considerar a Antropologia, a Sociologia e a Psicanálise como mera "Perfumaria", uma vez que isso só pode significar que estes verdadeiros campos do saber acerca do ser humano e da sociedade em que vivemos CHEIRAM BEM, diferentemente de "certas disciplinas" jurídicas - como é o caso do Direito Tributário, por exemplo, que CHEIRA MUITO MAL por possuir duas finalidades (uma latente e outra declarada), quais sejam a de tentar justificar o ESPOLIAMENTO do patrimônio particular por parte do Estado, ou então, a de legitimar o CALOTE por parte do particular em cima da Receita Pública.

Não é de surpreender que uma de suas frases favoritas em sala-de-aula seja: "Vocês não estão em época de 'selecionar' conhecimento, mas sim de absorver!".
Bem, Professor: não sei dizer se a burguesia para a qual o senhor está habituado a lecionar, realmente se encontra "despreparada" para "selecionar" conhecimentos (e por isso engole de bom grado toda a sorte de excrementos que lhes são enfiados goela abaixo!); mas esse com certeza não é um critério que se aplica a todos que estão em busca de algum conhecimento na área jurídica, principalmente porque, como todos sabemos, NÃO EXISTEM verdades absolutas no campo das infinitas possibilidades do "Universo das Relações Humanas".
Eu sempre estive APTO SIM, a "selecionar" o tipo e a qualidade das informações que pretendo absorver - desde pequeno me recusando a aceitar qualquer forma de censura referente ao material literário com o qual pretendo me relacionar, até mesmo da parte de meu Pai e minha Mãe - de maneira que me considero "um pouco velho demais" para permitir que agora, aos 31 anos de idade, venha uma instituição para a qual eu não pago pouco ($$$), me dizer o que eu DEVO ou NÃO DEVO levar em consideração...
Mas talvez essas críticas sejam oblíquas e ineficazes, uma vez que o senhor é fruto e produto desse mesmo desqualificado Ensino de Massas, portanto, logo INCAPAZ de compreender as minhas críticas sem se colocar DE FORA desse mesmo Sistema de Ensino, ao qual hoje o senhor perpetua e faz parte.
Talvez um dia, tomando um chopp gelado numa mesa de bar - num momento distante da ótica "verticalizante" que te coloca como professor ACIMA DE MIM, insignificante aluno - possa lhe fazer compreender ao menos UM POUCO do conteúdo da crítica que lhe faço através destas mal-digitadas linhas...
Um grande abraço e até segunda-feira, durante a avaliação punitiva, covarde e mesquinha, chamada Exame Final!

Um comentário:

leandrorosalinski disse...

to esperando a atualização.