quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Saudade da época da "Histeria Nuclear"...

A maioria dos meus colegas de faculdade não se lembra, pois eram muito pequenos ou sequer nascidos naquele tempo: o maior barato dos anos 80 não foi a New Wave nem o primeiro Rock in Rio; não foi a incrível seleção de 1982 - que com Telê Santana à frente, conseguiu a inigualável façanha de se tornar o único time de futebol da história, a ser recepcionado como campeão, mesmo voltando para casa derrotado - e nem mesmo a volta do regime democrático às Terras Brasilis.
O maior barato dos anos 80 foi o medo constante e a histeria coletiva que imperava (principalmente na mídia, claro!) acerca de um quase certo e extremamente próximo Holocausto Nuclear. A dolorosíssima "morte pelas chamas" nos aguardava logo ali, na próxima esquina. Impossível saber se veríamos o sol nascer na manhã subseqüente. Sobreviver - caso você possuisse um abrigo anti-nuclear ou um guarda-chuva de chumbo para se proteger da chuva de partículas radiativas -, era pior ainda, pois os sintomas de uma infecção nuclear (que você iria contrair inevitavelmente, após poucos dias respirando a poeira atômica que a bomba espalharia na atmosfera) fa-lo-ia desejar ter sido imediatamente varrido das dores da existência... Sem falar nas terríveis alterações genéticas que poderiam ser transmitidas cromossômicamente, condenando de antemão às gerações futuras! Sobreviver ao tal Holocausto Nuclear, significava na melhor das hipóteses, morrer lenta e dolorosamente de câncer; e na pior, gerar bebês que brilhavam no escuro. O que poderia ser "mais divertido" do que isso?
Penso que o auge da "Histeria Nuclear" ocorreu em 1986, por ocasião do vazamento na Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (na época, pertencente à URSS). O governo soviético tentara esconder da comunidade internacional o ocorrido, até que os índices de radiação se tornaram tão altos, que foram detectados em outros países. O acidente foi responsável pela evacuação de mais de duzentas mil pessoas e pelo isolamento de uma área de 18km ao redor da Usina - área esta, interditada para o plantio e habitação pelo menos pelos próximos cinqüenta anos.
O acontecimento despertou um verdadeiro pânico aqui no Brasil, por causa da Usina de Angra. Comentavam na época, que bastaria um vazamento de proporções muito inferiores ao ocorrido em Chernobyl, para causar uma tragédia de dimensões infinitamente MAIORES. Os argumentos utilizados por esses "profetas do apocalipse", defensores desta tese, eram a proximidade com a cidade do Rio de Janeiro e o fato da Usina ser localizada à beira-mar (o que inevitavelmente condenaria toda a população e a fauna marinha das regiões Sudeste e Sul, por conta das correntes-marítimas que convergiam justamente naquele ponto geográfico). Havia ainda a questão da carne, leite e ovos – contaminados pela radiação, por causa do vazamento na Europa – que muitos juravam, viriam parar na mesa de nós, brasileiros ("ou vocês acham que aqueles comunistas irão arcar sozinhos com todo aquele prejuízo?", proclamavam os mais exaltados). Então, durante mêses, evitou-se a carne e os ovos, que chegaram a desaparecer das prateleiras dos mercados - provavelmente por culpa do Plano Cruzado, mas muitos atribuíram ao acidente de Chernobyl. Essa foi a tal da "Histeria Nuclear"...
Hoje, não temos NADA que se iguale a ela. A tal "Ameaça Terrorista" - significante de pânico da vez, tão minuciosamente trabalhado pelos deformadores da realidade - não chega sequer na unha do dedinho do pé da "Histeria Nuclear". Quem não a viveu, perdeu tempos muito interessantes!
Oh, que saudade dos anos 80...

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande João Rosa!

Com o seu humor seco e sarcástico continua sendo uma das melhores leituras críticas da cidade, seja através de e-mails, ou bloggs na internet (apesar da diferença ideológica que nos cerca).

Realmente não vivi os "anos verdes", como costumo me referir ao período de constante ameaça do holocausto nuclear.

Mas de longe é possível identificar que esse fenômeno influenciou e muito a produção artística daquela época.

Continue nesta linha, Doutor!

Grande abraço,
Josmar J. dos Santos Jr.

Felipe disse...

Pena que não vivemos os anos 60...

Claro, havia o medo da porra maldita, e talvez o incidente dos mísseis em Cuba, mas a camisinha e o anticoncepcional já eram populares!

Gabriela R. disse...

Adorei o blog John!!!
E a forma como vc escreve tambem!
Enquanto lia, juro que eu ouvia tua voz na minha cabeca dizendo tudo aquilo!ahaha
Sensacional!!
Beijao enorme!!
Ve se aparece mais vezes la no Chucrute, seras sempre bem-vindo!
=*